Havia três anos que Willa Costa Monteiro, 32 anos, sonhava em ouvir a voz do único filho. Vítima de um traumatismo craniano provocado por uma queda, ele passou oito anos completamente surdo. Ouvir o pequeno Arthur, três anos, só foi possível depois que o auxiliar de almoxarifado de Diadema (ABC) recebeu um implante coclear, o chamado ouvido biônico.
A cirurgia foi realizada em 12 de março, mas o sistema só foi ativado há pouco mais de um mês. De lá para cá, Willa vive uma período de readaptação aos sons.
A técnica consegue restaurar a audição nos pacientes com surdez profunda. Ela inclui o implante de uma peça no ouvido e de um receptador na nuca, ativado 40 dias após a cirurgia.
"Foi uma longa espera, mas estive confiante durante todo o tempo. Sonhava em sair do consultório já podendo ouvir", diz Willa. E foi o que aconteceu. O primeiro som que ele identificou foi o barulho de uma porta. "Era a fonoaudióloga entrando na sala", conta a mulher, Simone Lemos Monteiro, 32 anos. "Quando Willa disse que ouviu o barulho, os olhos dela se encheram de lágrimas".
O implante foi o primeiro realizado por uma equipe do ABC. De acordo com dados da Central Brasileira de Implante Coclear, existem no Brasil hoje cerca de 2.000 pacientes com ouvido biônico - no mundo, são 150 mil.
Segundo a otorrinolaringologista Priscila Bogar Rapoport, os pacientes são submetidos a exames para confirmar a viabilidade da cirurgia. "A principal restrição ocorre quando a cóclea está fechada, impedindo a colocação do implante", explica a titular da especialidade da Faculdade de Medicina do ABC, responsável pelo procedimento.
Oficialmente, Willa continua surdo. O implante não cura a deficiência, mas permite ter qualidade de vida. "Vou voltar a estudar engenharia e já posso ouvir meu filho me chamar de pai. Na primeira vez, ele perguntava se eu estava ouvindo. E estava, tudinho. Foi emocionante".
"Perguntei o que ele queria jantar"
A expectativa tomou conta da equipe médica. Depois da ativação do sistema, Simone Lemos Monteiro foi convidada a fazer a primeira pergunta a Willa, após oito anos sem se comunicar verbalmente com o marido. "Fiquei sem saber o que falar na hora e acabei perguntando o que ele queria jantar", conta. Feliz por ouvir, ele caiu na gargalhada.
Após o implante, a rotina do casal mudou completamente. Em casa, Simone não precisou mais ligar para os pais de Willa, que moram no Maranhão. "Ele voltou a falar no telefone e foi uma emoção só quando ligou para a mãe", diz.
Para ajudar na recuperação do marido, a auxiliar de enfermagem chega a lhe dar as costas durante uma conversa. "Ele tem de parar de fazer leitura labial".
Aparelho auditivo custa até R$ 80 mil
O procedimento não é inédito, mas também não é comum no país. Poucos centros públicos de medicina estão habilitados a realizar o implante e até hospitais particulares têm dificuldades em fazê-lo em função dos custos altos. Somente o equipamento implantado custa entre R$ 60 mil e R$ 80 mil.
De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde, o implante coclear é oferecido em seis unidades públicas da rede. Três estão na capital e três no interior: Hospital São Paulo, Hospital das Clínicas de São Paulo e Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, Hospital das Clínicas de Campinas, Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto e Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais de Bauru.
Para ser candidato, o paciente deve passar pela avaliação de uma equipe multidisciplinar.
Audição deve ser treinada após a cirurgia
Não basta ativar o sistema. Após o implante, é preciso treinar o ouvido e fazer acompanhamento com fonoaudiólogo. É ele que ajudará o paciente a identificar corretamente os sons, que não são naturais, mas robotizados.
"O treinamento é fundamental para crianças que nunca ouviram e, por isso, não sabem o significado de nenhum dos sons, e também para pacientes que perderam a audição", explica a fonoaudióloga Marisa Ruggiei Marone, da equipe responsável pelo implante de Willa.
O tratamento consiste em fazer com que o paciente consiga traduzir os estímulos traduzidos pelo aparelho. "Aos poucos, dá para diferenciar vozes femininas de masculinas, por exemplo, e sons agudos de sons mais graves. Também fazemos ajustes no implante. É possível aumentar ou reduzir o volume".
Saiba Mais
2.000 pessoas usam o implante no Brasil
O que é:
O implante coclear, conhecido como ouvido biônico, é um aparelho eletrônico utilizado para restaurar a audição em pacientes com surdez profunda que não se beneficiam do uso de próteses auditivas convencionais.
Onde fica:
É composto por uma parte interna, colocada próximo ao nervo facial, e outra externa, que capta os sons. Essa unidade fica presa pouco acima da nuca. Funciona por meio de baterias.
Como Funciona:
Um computador e 22 conexões em forma de pequenas esferas de metal transformam o som em estímulo elétrico e o transmite até o implante fixado por meio de uma cirurgia na cóclea, o canal responsável pela audição.
1. O microfone capta os sons externos e os transmite ao processados de fala.
2. Depois, eles são transformados em impulsos elétricos e transmitidos, por meio da antena, até a unidade interna.
3. Já dentro do ouvido, os eletrodos fazem a leitura desses códigos e estimulam os nervos auditivos.
4. O cérebro entende o processo como som e o paciente recupera parte da audição.
Qual a diferença entre o implante e o aparelho?
Os aparelhos de audição só amplificam os sons e são usados por pacientes que ainda têm parte da audição. Já o implante funciona como um óculos para alguém que é cego. Ele é um estimulador elétrico, que faz o papel do ouvido.
Fonte: Jornal Agora SP (Adriana Ferraz)
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